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Mattos Filho: 30 anos construindo os próximos 30

Em 1992, um grupo de advogados, que já atuava junto há mais de duas décadas, formou o Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr e Quiroga Advogados. Acompanhados de outros 12 advogados, concretizaram a ideia de um escritório que, em suas origens, tinha a pretensão de ser uma boutique com foco em quatro áreas: tributário, mercado de capitais, societário e negócios imobiliários.

Comprometidos, desde o início, com uma visão de longo prazo, o Mattos Filho rapidamente evoluiu para um modelo de assessoria jurídica full-service. Para acompanhar as necessidades dos clientes e antecipar as tendências do mercado, crescemos e ampliamos as áreas que atendíamos, inauguramos novas áreas de atuação e aumentamos nossos quadros de profissionais.

Para contar detalhes da nossa trajetória e explicar como ela se conecta, ao longo dessas três décadas, com a evolução do Direito e do papel dos advogados como parceiros de negócios das empresas e agentes transformadores da sociedade, reunimos nossos sócios-fundadores para um bate-papo. A conversa é mediada por Ive Lima, diretora de Comunicação e Marketing do escritório.

Leia abaixo os principais momentos da conversa ou assista ao vídeo na íntegra.

Ive Lima: O Mattos Filho iniciou sua história em 1992, focado em temas tributários, mercado de capitais e negócios imobiliários. De onde surgiu a ideia de fundar o escritório e quais foram os principais desafios nessa trajetória?

Ary Oswaldo Mattos Filho: O escritório nasceu de uma ideia de que uma instituição deveria se perpetuar. Mais que uma estrutura que agasalhasse amigos por um determinado tempo, o escritório deveria crescer, estabelecer ligações de continuidade no tempo. Nunca quisemos cristalizar o escritório apenas nos quatro sócios-fundadores.

Roberto Quiroga: Começamos com quatro áreas empresariais. O Ary tinha deixado a CVM e éramos muito fortes no mercado financeiro. Eu e o Marrey atuávamos forte na área Tributária, o Otávio na Imobiliária, e tínhamos uma pequena atuação em Societário. Foi uma estratégia inicial que eu brinco que não deu certo, pois evoluímos e nos tornamos o escritório que somos hoje.

Otávio Uchôa da Veiga Filho: Nosso planejamento era ter uma continuidade de pessoas no escritório para agregar ao trabalho que iniciamos. Até os dias de hoje, um dos motes que temos é esse: abrir oportunidades para que nossos profissionais possam crescer. Tivemos exemplos bastante marcantes de estagiários que se formaram advogados e depois se tornaram sócios do escritório. O Quiroga é um exemplo disso, embora ele tenha sido estagiário numa fase anterior do nosso escritório atual. Tínhamos desafios constantes, principalmente em manter a unidade de pensamento entre todos que chegavam ao escritório, e esse desafio acabou sendo sempre respeitado. As pessoas entravam e acontecia uma empatia natural.

Ive Lima: 30 anos é um tempo relativamente curto, mas nesse período o Mattos Filho conseguiu se transformar em um escritório de referência no Brasil e América Latina. Qual foi o “tempero” desse sucesso?

Roberto Quiroga: Nós tínhamos uma ideia de coleguismo e respeito mútuo muito grande quando iniciamos o escritório e isso permaneceu com os sócios que vieram depois. Outra característica, sem dúvida, foi a excelência técnica dos nossos profissionais. E o terceiro tempero para esse crescimento veio do lado externo: o crescimento do país. O Brasil e o mercado jurídico cresceram nesses 30 anos e felizmente crescemos juntos com ele, em termos de desenvolvimento econômico, de uma sociedade mais justa e equilibrada.

Otávio Uchôa da Veiga Filho: Outra característica importante foi que sempre tivemos um jogo de cintura bastante acentuado. Muitas das nossas diretrizes acabavam sendo modificadas com o tempo, o que não nos assustava. O Mattos Filho sempre se adaptou às condições externas e isso fazia com que decidíssemos abrir novas áreas, formássemos sócios orgânicos e trouxéssemos sócios de fora, buscando atrair os melhores profissionais do mercado.

Pedro Luciano Marrey Jr.: Somos um escritório de prestação de serviços, tendo como ativo principal as pessoas. Sempre batalhamos muito pelos nossos ideais, para sedimentarmos uma cultura voltada ao coletivo. Isso transbordou dos sócios-fundadores para os demais advogados, formando essa cultura que temos hoje no escritório.

Ive Lima: Quais outros eventos políticos e econômicos ocorreram ao longo da nossa jornada, que também ajudaram a impulsionar o crescimento do escritório?

Pedro Luciano Marrey Jr.: Estávamos no lugar certo na hora certa. O principal fato externo que realmente deu um grande impulso foi a nova Constituição Federal de 1988. Pois ali se desenhou, em termos jurídicos, um novo país. E tivemos um trabalho bastante importante e atuante nesse assunto. Íamos constantemente a Brasília para nos reunir com deputados, pois eles decidiam que entrava ou não na Constituição.

Com a nova Carta Magna, surgiram muitas oportunidades de trabalho, principalmente na área tributária, pois havia uma contestação grande de dispositivos que não se harmonizavam com a Constituição. Em 1992, a abertura das importações foi outro passo importante que modificou muito o mercado interno, aumentando a concorrência. Muitas questões jurídicas se puseram.

Uma terceira questão muito importante à época, dos anos 1990, foram as privatizações. A começar pela da Vale do Rio Doce, em que trabalhamos bastante. Era uma operação muito grande, e formamos times para poder cumprir com a tarefa, sendo bem sucedidos.

Ive Lima: Uma jornada dessa trouxe desafios pessoais e profissionais. Vocês acharam que, em algum momento, o negócio poderia não dar certo?

Ary Oswaldo Mattos Filho: Aprendemos a consertar o avião em voo. Nunca tivemos medo de empreender, ampliar as áreas, investir no escritório. E essa é uma característica: ou você acredita naquilo que está fazendo, ou fica timorato e a coisa não anda. O Mattos Filho nunca titubeou em assumir riscos, mas de forma controlada, que vinha da conversa que tínhamos sempre.

Ive Lima: Mudou o jeito de advogar nesses 30 anos?

Pedro Luciano Marrey Jr.: Bastante! Porque o país mudou, os clientes mudaram, a economia mudou. Quando começamos no escritório, não se falava, por exemplo, em Direito ambiental, era um tema que não existia. Hoje, é um tema muito importante. Falava-se pouco em aberturas de capital na Bolsa de Valores. Hoje, dezenas de empresas fazem isso todos os anos. As operações de fusões e aquisições cresceram muito, pois a chegada do capital estrangeiro, propiciada pela economia e o valor do dólar, contribuiu para que empresas estrangeiras viessem ao Brasil, comprando participações em empresas brasileiras ou sua totalidade. Isso precisava de profissionais especializados que soubessem fazer esse tipo de operação: abertura de capital, emissão de notes, contratos de fusões e aquisições, com defesas de interesses diversos. Os advogados precisavam saber como defender seus clientes. A advocacia mudou nesse sentido: no passado, você advogava para um determinado assunto do seu cliente. Hoje, você o acompanha em todas as suas necessidades, durante muitos anos.

Nesse período, soubemos fidelizar os clientes. Alguns estão conosco há mais de 30 anos, desde nossa antiga operação. Então, temos que aprender a advogar, contar com a colaboração dos outros sócios e advogados que são mais especializados em determinadas áreas e coordenar todas essas frentes para conseguir entregar um produto mais eficiente e adequado.

Ive Lima: Ao longo desse crescimento, passamos de um escritório focado em áreas transacionais para um escritório full-service, com uma atuação de Contencioso muito forte. Como se deu essa transformação?

Roberto Quiroga: A partir de 2009, quando mudamos a governança do escritório e todo o sistema de remuneração de sócios, foi uma transformação importante no nosso modelo de atuação. Nos organizamos para completar o portfólio de serviços que tínhamos para oferecer ao cliente. De forma estratégica, fomos atrás das pessoas corretas para integrar o nosso time e ampliar áreas ou criar frentes de atuação. Há 15 anos não tínhamos quase nada de atuação no Contencioso. Em 2021, a prática de Contencioso e arbitragem foi a de maior faturamento do escritório. Isso mostra que nossa estratégia deu certo e que gera inúmeras oportunidades internamente.

Hoje, somos reconhecidamente escritório Band 1 em muitas práticas. Conseguimos preencher essas lacunas para prestar um serviço melhor e mais completo ao cliente. Atualmente, quando uma empresa pensa no Mattos Filho, observa inúmeras possibilidades de atendimento, numa integralidade que antes não via. Isso é fruto dessa organização. Nos tornamos uma instituição com uma marca muito forte.

Nossa grande evolução em 30 anos foi essa: passamos a ser efetivamente full-service. O cliente, quando chega ao escritório, não precisa ir a nenhum outro lugar, pois o atendemos em todas as suas necessidades.

Ive Lima: Como vocês avaliam essa trajetória e o que esperam do Mattos Filho para os próximos 30 anos?

Pedro Luciano Marrey Jr.: O escritório trouxe muitas alegrias para todos nós. Tivemos percalços, não somos perfeitos, mas o resumo geral é que crescemos: não só no tamanho do escritório, mas como pessoas. Na medida que, lá atrás, entendemos que deveríamos retribuir à sociedade tudo aquilo que ela nos dava. E a melhor maneira era dando para a sociedade tudo aquilo que sabíamos que era o Direito. Por isso, tivemos muita atuação na área social e eu acho que isso foi o mais importante. O escritório é feito por pessoas e elas precisam ser bem tratadas. Queremos que nossos profissionais estejam felizes na sua atuação, como nós fomos quando inauguramos o escritório.

Otávio Uchôa da Veiga Filho: Esse valor que sempre demos às pessoas é uma tônica que marca até hoje nossa atuação, e imagino que se perpetue, pois faz parte do DNA do escritório. E, apesar da valoração dos indivíduos e pessoas, outra coisa que não aconteceu de forma espontânea foi fazer com que o escritório se despersonalizasse. O Mattos Filho hoje independe de cada um dos sócios-fundadores e demais sócios. Somos uma instituição. Esse espírito faz com que se perpetue, trazendo muitas alegrias e orgulho para nós.

Ary Oswaldo Mattos Filho: A institucionalização e despersonalização foi fundamental para consolidar um crescimento orgânico do nosso escritório. Somos uma instituição absolutamente democrática, pois cada sócio tem um voto. Somos uma associação de interesses comuns entre sócios, advogados, estagiários e demais profissionais, todos trabalhando por uma causa comum. Conseguimos estabelecer um ambiente no qual as pessoas se respeitam e encontram sua razão principal de viver profissional.

Roberto Quiroga: Desejo que continuemos sendo um ambiente empreendedor, criativo, que pense em inovação. E, que de uma certa forma, consiga transformar em ações e tarefas aquilo que nós agora estamos transformando em novo posicionamento de marca, um escritório que impulsiona transformações, na sociedade e no Direito. Essa promessa é o grande desafio do Mattos Filho nos próximos anos.